São dez e um quarto da manhã e tu estás feliz da vida a conduzir, e devagar, vais dirigindo-te para a rua, para o inicio da distribuição. É trabalho, e como hoje tens pouco que fazer, até parece que não te custou levantar as seis, para estar a trabalhar ás sete. É trabalho. E também só faltam uns dias para acabar tudo e para ires de férias.
Não acontece de repente, nem acontece depressa, mas antes como se tudo estivesse em câmera lenta, e embora não tenhas tempo para reagir ou para alterares a tua direcção, sabes o que vai acontecer, mesmo contando com a enorme velocidade do outro veículo e com a inexistência de quaisquer sinais de aviso, nem sirenes, nem buzinas, nada.
Quando dou por mim, embateram no meu carro. A poeira, o sabor metálico provocado por todo o acidente e pelo sangue, que me cai da cara, deixam-me um pouco preocupado. O carro, mesmo não sendo o meu, porque tinha trocado de carros com a minha mãe, é a última coisa em que penso, numa altura em que um bombeiro me diz para ficar quieto e não me tentar mexer.
Nesse momento percebo que veículo é que embateu no Opel e pergunto porque é que alguem circulava num cruzamento a tanta velocidade, visto que o meu carro, onde tinham embatido, estava totalmente destruído, sendo que a única coisa que restava dele era precisamente o lugar onde eu estava sentado. Não tive resposta.
Fiquei quieto, e embora preocupado por causa de tanto sangue e porque não conseguia ver de um olho e tinha a cara toda retalhada por causa dos vidros, não perdi a consciência. Pouco ou nada disse enquanto me desencarceravam do carro, e apenas pedi para telefonarem à Manuela, o único número registado no meu telemóvel temporário, para que avisasse os outros.
Fui levado para o hospital e mesmo nessa altura, sem consciência completa do que se tinha passado, achava que não haveria problema, que iam cozer-me e depois ía ver o Arménia-Portugal a casa do Tomás. Sete horas depois, sabia que as coisas eram diferentes.
Deve ser defeito ou algo relacionado com a nossa natureza acharmos, contra todas as evidências, que está tudo bem. Portanto, apesar do traumatismo na cabeça e no joelho, dos cortes profundos e de um músculo (acima do sobrolho) desfeito, aquilo em que eu estava a pensar era em ir ver um jogo de futebol com um dos meus melhores amigos. Sete horas depois, sabia que as coisas eram mesmo diferentes.
Passaram-se quase duas semanas, e apesar de o joelho direito ainda não estar convenientemente tratado - falta só desinchar - e de ainda não conseguir fechar bem o olho direito à conta de uma inflamação neste que me chateia (e muito), as cicatrizes até estão com muito bom aspecto (segundo aparenta demoram um ano a tratar correctamente) e eu estou apresentável. Pronto para as férias que pensava poder tirar (mas vou de comboio!), para os exames de setembro (se conseguir estudar, custa-me a ler), para mais um ano.
Tal como os computadores (o meu soube-o ontem, recuperou-se não sei como após ter crashado uns dias depois do acidente), todos nós chegamos a uma altura em que temos que recomeçar (normalmente essa altura é no Ano Novo, não na sequência de um acidente de viação...). Essa altura chegou para mim.
Agora tenho que ir com calma, já que este ano, o Rugby por agora só do banco (apesar de ter o curso de treinador duvido que haja interesse em treinar uma equipa universitária); a Associação só à distância (apesar de poder dizer que aquilo neste verão deu uma volta bem grande, e para muito melhor, algo que eu gostava de ter feito mas que não invejo, congratulo, posto que, em todo o caso, haverá sempre trabalho a fazer); e o Trabalho, esse, por motivos óbvios, está, por agora, fora da equação.
Resta-me o curso, que este ano vai correr melhor, espero que com - finalmente - umas notas que valha a pena mostrar, e outros projectos, como a Tuna e o Blog, que, a seu tempo, terão a atenção devida. Mais a primeira que o segundo, até porque foi algo que no ano transacto não consegui prosseguir.
O Blog do Bernas está de volta á actividade, e, assim que eu conseguir recuperar o meu PC, hoje ou amanhã, mais posts se seguirão. Um abraço a todos.
Bernardo Manuel Carmona Rosmaninho.