"Todas as histórias começam de forma diferente. Por um motivo ou outro, por paixão ou desentendimento, por amor ou ódio, por necessidade comum de muitos ou vontade determinada de um, todos os clubes de futebol surgiram de alguma forma, sempre diferente. E por detrás desse momento, da fundação de um gigante, podemos encontrar quase sempre uma personalidade e um espírito que ficam para sempre na nossa memória."
Este é o primeiro de três posts sobre a história de um clube que é mais do que um tributo á vontade e ao espírito solidário de muitos, é um exemplo fidedigno do percurso e das características do futebol inglês. Este é, ao mesmo tempo, brilhante e terrível, encontra-se repleto de grandes vitórias e de enormes desilusões, alberga o talento de jogadores, treinadores e dirigentes, capazes do melhor e do pior, tal como os fãs e adeptos, que marcaram épocas e formas de ver o desporto em terras de Sua Majestade. Esta é a história do Liverpool Football Club.
Este é o primeiro de três posts sobre a história de um clube que é mais do que um tributo á vontade e ao espírito solidário de muitos, é um exemplo fidedigno do percurso e das características do futebol inglês. Este é, ao mesmo tempo, brilhante e terrível, encontra-se repleto de grandes vitórias e de enormes desilusões, alberga o talento de jogadores, treinadores e dirigentes, capazes do melhor e do pior, tal como os fãs e adeptos, que marcaram épocas e formas de ver o desporto em terras de Sua Majestade. Esta é a história do Liverpool Football Club.
Março de 1892, A Fundação.
Se no Benfica existiu Cosme Damião, em Barcelona Joan Gamper, o Liverpool teve em John Holding (uma figura controversa, homem de negócios, futuro deputado do Partido Conservador e Mayor da cidade) o seu líder fundador.
John Holding, que era o proprietário do terreno onde o Everton jogava, Anfield Road, abandona os 'toffees' em ruptura com a direcção que presidia desde 1882. No dia 15 desse mês, ele e 19 outros sócios do clube que se tinha mudado para Goodison Park, formam o Liverpool Football Club. Após uma tentativa inicial (falhada) de roubar ao nome do rival, o conjunto recém-formado abandona o azul e adopta o vermelho da cidade como cor a 1894 e insere o liverbird, ave mitológica, no seu emblema no ano de 1901.
Começou assim a história de um dos maiores clubes do mundo, o maior de Inglaterra, que na sua primeira equipa não tinha um único inglês e que deve a John McKenna (um irlandês) o facto de no verão de 1893 ter entrado na Football League. Antes dessa entrada decisiva (i.e. durante a época de 1892/93) os 'reds' apenas puderam participar na Taça de Liverpool e na Liga do Lancashire, vencendo ambas.
O primeiro título no principal Campeonato surge a 1901, com o clube a ser liderado por Tom Watson, outra figura fundamental nas primeiras décadas deste. Até ao fim da década de 50, o emblema de Merseyside teve como grandes referências o guarda-redes Elisha Scott e o atacante Billy Liddell, que foi contratado por sugestão de um tal de Matt Busby, então capitão de equipa e futuro treinador do Manchester United, formando uma formidável geração de jogadores e levando-os á conquista da Taça do Clubes Campeões da UEFA, naquele que foi o primeiro título europeu de um clube inglês.
Nesta primeira fase, o clube angariou fãs e troféus, rapidamente ultrapassando em popularidade o seu rival de sempre Everton FC. Mesmo assim, o seu apogeu ainda estava para vir, com a chegada ao clube, em 1957, de um homem que revolucionaria o futebol de Anfield e que o colocaria no topo da nação futebolística, preparando-o para o ataque á Europa. Esse homem era Bill Shankly.
Se no Benfica existiu Cosme Damião, em Barcelona Joan Gamper, o Liverpool teve em John Holding (uma figura controversa, homem de negócios, futuro deputado do Partido Conservador e Mayor da cidade) o seu líder fundador.
John Holding, que era o proprietário do terreno onde o Everton jogava, Anfield Road, abandona os 'toffees' em ruptura com a direcção que presidia desde 1882. No dia 15 desse mês, ele e 19 outros sócios do clube que se tinha mudado para Goodison Park, formam o Liverpool Football Club. Após uma tentativa inicial (falhada) de roubar ao nome do rival, o conjunto recém-formado abandona o azul e adopta o vermelho da cidade como cor a 1894 e insere o liverbird, ave mitológica, no seu emblema no ano de 1901.
Começou assim a história de um dos maiores clubes do mundo, o maior de Inglaterra, que na sua primeira equipa não tinha um único inglês e que deve a John McKenna (um irlandês) o facto de no verão de 1893 ter entrado na Football League. Antes dessa entrada decisiva (i.e. durante a época de 1892/93) os 'reds' apenas puderam participar na Taça de Liverpool e na Liga do Lancashire, vencendo ambas.
O primeiro título no principal Campeonato surge a 1901, com o clube a ser liderado por Tom Watson, outra figura fundamental nas primeiras décadas deste. Até ao fim da década de 50, o emblema de Merseyside teve como grandes referências o guarda-redes Elisha Scott e o atacante Billy Liddell, que foi contratado por sugestão de um tal de Matt Busby, então capitão de equipa e futuro treinador do Manchester United, formando uma formidável geração de jogadores e levando-os á conquista da Taça do Clubes Campeões da UEFA, naquele que foi o primeiro título europeu de um clube inglês.
Nesta primeira fase, o clube angariou fãs e troféus, rapidamente ultrapassando em popularidade o seu rival de sempre Everton FC. Mesmo assim, o seu apogeu ainda estava para vir, com a chegada ao clube, em 1957, de um homem que revolucionaria o futebol de Anfield e que o colocaria no topo da nação futebolística, preparando-o para o ataque á Europa. Esse homem era Bill Shankly.
1957 - 1965, Desenvolvimento.
Bill Shankly chegou ao Liverpool em 1959. Homem de filosofia simples e convicções fortes, a sua acção revolucionou todo o clube, forçando uma melhoria nas condições de treinos, fazendo os jogadores viajarem sempre juntos, minimizando as lesões e controlando a sua condição física e alimentação, enquanto remodelava a equipa principal, submetendo-a ao seu método.
Este podia resumir-se a uma forma nova de abordar o comportamento da equipa, exigindo desta uma enorme entreajuda e colaboração, praticando depois um futebol prático, apoiado, de passe e corrida, com um jogador a proteger o outro atacando todos o mesmo objectivo. Assim, quando um membro da equipa estava a jogar mal, Shankly mantinha-o a jogar até que os colegas o ajudassem. Aquilo que o treinador definia como "ética socialista" era algo perceptível para o público de Anfield Road, que se revia neste estilo, liderança e atitude.
Os resultados não tardaram a chegar. Em duas temporadas, o clube regressa á Primeira Divisão, conquistando-a ao rival Everton em 1964. Em 1965 os 'reds' vencem a sua primeira Taça de Inglaterra e em 1966, com apenas 14 jogadores, voltam a ser campeões. O país era vermelho, a beatlemania ajudava e o clube estava em crescendo. Mais do que as vitórias, com Shankly o que mudava era a mentalidade e a atitude com que se abordava o jogo e o confronto com os adversários.
Bill Shankly chegou ao Liverpool em 1959. Homem de filosofia simples e convicções fortes, a sua acção revolucionou todo o clube, forçando uma melhoria nas condições de treinos, fazendo os jogadores viajarem sempre juntos, minimizando as lesões e controlando a sua condição física e alimentação, enquanto remodelava a equipa principal, submetendo-a ao seu método.
Este podia resumir-se a uma forma nova de abordar o comportamento da equipa, exigindo desta uma enorme entreajuda e colaboração, praticando depois um futebol prático, apoiado, de passe e corrida, com um jogador a proteger o outro atacando todos o mesmo objectivo. Assim, quando um membro da equipa estava a jogar mal, Shankly mantinha-o a jogar até que os colegas o ajudassem. Aquilo que o treinador definia como "ética socialista" era algo perceptível para o público de Anfield Road, que se revia neste estilo, liderança e atitude.
Os resultados não tardaram a chegar. Em duas temporadas, o clube regressa á Primeira Divisão, conquistando-a ao rival Everton em 1964. Em 1965 os 'reds' vencem a sua primeira Taça de Inglaterra e em 1966, com apenas 14 jogadores, voltam a ser campeões. O país era vermelho, a beatlemania ajudava e o clube estava em crescendo. Mais do que as vitórias, com Shankly o que mudava era a mentalidade e a atitude com que se abordava o jogo e o confronto com os adversários.
Certo dia, o treinador mandou colocar uma placa no acesso ao campo onde se lia "Aqui é Anfield". Questionado sobre o porquê deste acto, a resposta surge, incisiva: "Quero recordar aos nossos por quem estão a jogar e aos outros quem vão enfrentar. O fogo nas nossas entranhas vem do orgulho e da paixão de vestir a camisola vermelha. O estatuto de jogador do Liverpool mantém-nos motivados.".
Afirmações destas reforçam o espírito vencedor que o escocês quer implementar. Ele trata de o resumir da seguinte forma: "Muito do sucesso no futebol está na cabeça. Temos de acreditar que somos os melhores e depois asseguramo-nos de que o somos. Temos as duas melhores equipas do Merseyside, o Liverpool e os Reservas do Liverpool.".
Jogadores como Tommy Smith, "The Anfield Iron", que veio dos juvenis até aos seniores, jogando pelos últimos 637 vezes, dão corpo a este sentimento, a esta dedicação e ao esforço que era pedido, em prol do clube e do colectivo.
No entanto, mais do que o carácter ou conhecimentos de futebol, a grande dádiva deste treinador ao clube inglês foi a criação de uma pequena sala, um cérebro, um espaço onde se guardavam os equipamentos e onde só os escolhidos entravam, a bootroom. Esta surge aquando da remodelação que Bill Shankly faz quando chega ao clube e representa um esforço no sentido de aproveitar a sabedoria existente no corpo técnico do Liverpool. Na bootroom falava-se de futebol, respirava-se o desporto em todos os seus aspectos, num ambiente selecto que assegurava a transição de uma cultura de jogo, de um conjunto de princípios que assim se perpetuavam. Durante 30 anos seria aqui que o treinador sénior seria escolhido.
Afirmações destas reforçam o espírito vencedor que o escocês quer implementar. Ele trata de o resumir da seguinte forma: "Muito do sucesso no futebol está na cabeça. Temos de acreditar que somos os melhores e depois asseguramo-nos de que o somos. Temos as duas melhores equipas do Merseyside, o Liverpool e os Reservas do Liverpool.".
Jogadores como Tommy Smith, "The Anfield Iron", que veio dos juvenis até aos seniores, jogando pelos últimos 637 vezes, dão corpo a este sentimento, a esta dedicação e ao esforço que era pedido, em prol do clube e do colectivo.
No entanto, mais do que o carácter ou conhecimentos de futebol, a grande dádiva deste treinador ao clube inglês foi a criação de uma pequena sala, um cérebro, um espaço onde se guardavam os equipamentos e onde só os escolhidos entravam, a bootroom. Esta surge aquando da remodelação que Bill Shankly faz quando chega ao clube e representa um esforço no sentido de aproveitar a sabedoria existente no corpo técnico do Liverpool. Na bootroom falava-se de futebol, respirava-se o desporto em todos os seus aspectos, num ambiente selecto que assegurava a transição de uma cultura de jogo, de um conjunto de princípios que assim se perpetuavam. Durante 30 anos seria aqui que o treinador sénior seria escolhido.
E foi assim que, durante as duas décadas seguintes, o Liverpool conquistou praticamente todos os grandes títulos. As décadas de 70 e 80 seriam as décadas de todas as conquistas... O júbilo que antecederia o desastre...
(Fim da primeira parte)
(Fim da primeira parte)