Na ilha deserta, podes fazer a tua casa na praia com a madeira de árvores centenárias e cantar bem alto, às horas que te apetecer. Podes andar nu. Não há PDM, áreas protegidas, vizinhos, condóminos, contribuição autárquica. A única lei que te obriga é a da sobrevivência, mas, se a ilha tiver fruta e galinholas, o mar livre de traineiras assegurar-te-á uma rica e saudável dieta. Não casarás e, por isso, não há contratos pré-nupciais a celebrar. Não tens nada para vender nem para comprar, o que te dispensa de todos os contratos de compra e venda. És rico - tens uma ilha inteira - mas não tens ninguém a quem deixar a tua riqueza: não precisas de fazer testamento. Com quem vais discutir os teus interesses? Com quem vais fazer acordos? Quem te diz o que podes ou não fazer?
Um dia, porém, quando começavas a estar farto da tua liberdade, outro náufrago chega à tua ilha. Já não é tua. Tens duas hipóteses: ou te pões de acordo com ele ou o matas, se fores capaz. Mas, se o matares, ficas outra vez sozinho. O ideal é estabelecer regras que permitam a convivência pacífica e, sobretudo, permitam que cada um aproveite as capacidades e aptidões do outro, porque, como sabes, não há duas pessoas iguais. E, então, cada decisão tua que implique, de alguma forma, o outro, deve conformar-se com as regras da vossa convivência. É para isso que, um belo dia, chega à ilha um terceiro habitante: o notário. Em breve, virão as mulheres, as empresas, os barcos e os aviões, e tu, vendo os teus netos correrem na "tua" praia, continuarás a perguntar-te, sem encontrar resposta, para que serve a liberdade, quando não há mais ninguém. Tome conta do notário.
Um anúncio fantástico, passado para o PC pela Manuela, a quem estou muito agradecido :p e que merece honras de post. Não só pelo humor mas também pela qualidade deste.
Boa semana,
Bernardo Rosmaninho
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